Privatizar um gramado, faz sentido?

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Desde que foi inaugurado, em meados dos anos 90, o Parque Villa-Lobos chamou a atenção dos paulistanos pelos seus imensos gramados, ao longo dos quais foram montados quiosques com teto de palha, mesas e cadeiras em madeira – o cenário perfeito para reunir amigos e a família, em um domingo ensolarado, para um gostoso piquenique. Com a moda dos aniversários ao ar livre, as famílias também passaram a usar os gramados do parque para realizar as festas das crianças, num exemplo de uso democrático de um espaço público. Como, de fato, deve ser uma área de lazer como a do Villa-Lobos.

O que a Concessionária Reserva Novos Parques Urbanos, que há um ano assumiu a administração desse e de outros parques da cidade, fez ao fechar uma área de gramado para locação de eventos foi descaracterizar o conceito de espaço público, transformando jardim em local seletivo, onde, quando há festa, o público que não é convidado literalmente é barrado no baile.

Como justificativa à criação do Villa Pic Nic, a concessionária afirma que o contrato assinado com o poder público autoriza a exploração, direta ou indireta, de diversas atividades nos parques, incluindo a cessão para uso de espaços com finalidade comercial. Até aí, ok – se imaginarmos a cessão de uso desses espaços para, por exemplo, quiosques de alimentação, uma lanchonete ou aluguel de bicicletas.

Quando, no entanto, essa cessão envolve um simples gramado torna-se algo absurdo, que extrapola o bom senso e o sentido de cidadania. A empresa diz que ao lado da área reservada existe outra, ainda maior, própria para aniversários e piqueniques, que pode continuar sendo utilizada gratuitamente para esse fim, se o usuário quiser fazer o evento sem contratar buffet e monitores.

Mas, o problema que se apresenta vai além dessa frágil argumentação. Que garantias o contrato de concessão nos dá de que, amanhã, outras áreas do parque não venham a ser também ‘privatizadas’, encolhendo cada vez mais os espaços 100% livres para a circulação e uso públicos? A continuar essa ‘toada seletiva’, será que logo mais veremos a construção de um playground VIP, com cobrança de ingresso, ao lado de outro – bem maior – com brinquedos comuns e gratuitos?

Somos, sem dúvida, a favor da concessão dos parques, que sob a gestão privada podem ser mais bem conservados e oferecer mais lazer à população. O que se espera da Reserva, no caso do Parque Villa-Lobos, é que a empresa invista rapidamente em zeladoria, melhorando, por exemplo, as condições das pistas de caminhada e reformando os quiosques. Isso sem que seja necessário aplicar uma política de loteamento dos espaços que são, por direito, de livre circulação do público.

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