Teatro Cacilda Becker apresenta uma fábula indo-brasileira

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Foto: Divulgação

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Mistura de culturas está presente na música e nos objetos

Voltado para toda a família, Cantiga Moura – Uma Fábula Indo-Brasileira conta a história de amor, que chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas, entre uma princesa mourisca e dois cavaleiros. A nova montagem do Núcleo Prema faz apresentações no sábado, 25, e domingo, 26, às 16h, no Teatro Cacilda Becker (Rua Tito 295 – Lapa), com entrada gratuita.

O espetáculo mescla dança indiana com a cultura popular brasileira, unindo teatro, dança, música, teatro de bonecos e manipulação de objetos. apresentação liga o fazer único de diferentes manifestações culturais brasileiras, como o Bumba-meu-Boi e o Lelê maranhense, o Cavalo Marinho e o Caboclinho pernambucano e o Congado mineiro com a dramatização tão presente nas danças indianas, ou seja, a narração de histórias interpretadas, cantadas e dançadas.

Com dramaturgia e composições musicais de Irani Cippiciani, que está no palco ao lado de Cassiana Rodrigues, Cintia Kawahara, Krishna Sharana e Rosana Araujo, e direção de cena de Edilson Castanheira, Cantiga Moura utiliza a estrutura de criação e composição cênica indiana chamada Abhinaya, que consiste em utilizar o corpo, as expressões faciais e os gestos de mão codificados para contar histórias.

O espetáculo – contemplado pela 33ª Edição do Programa de Fomento à Dança para Cidade de São Paulo – narra a história de uma princesa disputada por dois cavaleiros, um cristão e outro mouro. Irani Cippiciani explica, que o conto antigo, onde o cavaleiro cristão sequestra a princesa e mata o cavaleiro mouro, foi sendo suavizado com o tempo para se transformar em um conto infantil e chega com uma nova roupagem. “Agora a protagonista da história é a princesa, que não precisa decidir com qual cavaleiro quer seguir. Ela é livre e pode até se permitir ficar sozinha, cuidando da própria vida. Desse modo, a personagem feminina protagoniza a tríade arquetípica da princesa-donzela-guerreira, que transpassa nosso imaginário popular em muitos contos, poemas e canções”, explica ela.

Cantiga Moura é a segunda parte de uma trilogia cênica unindo a dança indiana e a cultura brasileira, intitulada PADAM: à procura de um corpo narrativo. O projeto nasceu fortemente vinculado a uma ideia de brasilidade, apresentada por Darcy Ribeiro, que é tríplice: ameríndia, africana e europeia. Oré Yéyè o, Oxum Tarangam, primeiro espetáculo da trilogia, falava sobre a cultura africana, agora o Núcleo Prema se debruça sobre a europeia e o terceiro e último espetáculo se voltará para os povos originários.

Na dança indiana a música é a narrativa que conta todo o enredo, ou seja, é parte fundamental da montagem. Por isso, as composições são em português, para trazer a estética indiana para junto do público. Desse modo, cabe a música contar a história, criar seus tempos, silêncios, cadências; criar as tônicas emocionais e pontuar, contornar, negar ou emoldurar os movimentos, as gestualidades dos dançarinos. “A pesquisa musical para este espetáculo é tão importante quanto a pesquisa corporal e gestual, porque há uma interdependência clara entre elas. A narrativa, neste caso, é musical, mas a sonoridade precisa estar intimamente vinculada a construção dos movimentos corporais que se alternam entre movimentos rítmicos e narrativos. A compreensão da língua é essencial”, conta Irani.

A trilha sonora original vem sendo composta, desde 2016, em etapas e envolve uma equipe de músicos indianos e uma equipe de músicos brasileiros. A primeira etapa já foi realizada na Índia em 2016, em parceria com os músicos da Triveni Academy of Natya. A segunda etapa consistiu, justamente, na gravação das demais partes da trilha sonora, contando com a participação de músicos brasileiros convidados. Ao todo são 12 faixas musicais, sendo três compostas na Índia e nove no Brasil.

Os objetos culturais escolhidos para metaforizar as camadas entrecruzadas de memórias entre essas culturas foram o tecido e o traje. O algodão indiano (conhecido como chita), os panos da costa africanos e as rendas europeias estão entre os elementos que mais penetraram os continentes se infiltrando nos costumes, na moda, nos rituais religiosos e na economia. Turbantes, calçolas, saias, xales, mantilhas e véus, joias, sapatos, guarda-sóis e estampas complementam um imenso acervo inspirador de trocas culturais entre as quatro matrizes de referência.

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