Boneli vive

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Perdemos um líder, ganhamos um legado. Assim podemos entender a morte de José Benedito Morelli, o Boneli, ocorrida na quinta-feira, 24. Discorrer sobre sua liderança comunitária é falar de um homem que vivia e respirava a Lapa (Região) 24 horas por dia, sete dias por semana.
As suas realizações marcaram a recente história regional com um selo indelével e com DNA próprio, inalienável, insubstituível. Boneli era povo e falava a língua dos mais humildes por quem sempre lutou e a quem sempre amparou. Não é à toa que essa gente compareceu em peso ao velório no Cemitério da Goiabeira, como ele fazia questão de se referir ao Cemitério da Lapa, dando preferência ao antigo nome da necrópole que apreendeu a pronunciar ainda pequeno na Vila Leopoldina.
Mas para lutar pelas causas populares (creches, unidades de saúde, hospital, saneamento, segurança etc.), Boneli penetrava com enorme habilidade no mundo dos poderosos: aquele político e aquele do capital econômico, buscando num e noutro o apoio das lideranças partidárias e empresariais, chamando-as para o debate para que elas assinassem compromissos públicos de modo a atender às justas demandas da população.
Essa estratégia de luta, ressalte-se bem sucedida, explica por si só a presença de vários empreendedores e parlamentares na despedida ao grande líder comunitário. Mas é do próprio povo que vem o testemunho do êxito das campanhas por ele encabeçadas. Lúcia Oliveira, da Associação Amigos da Vila Piauí, entre lágrimas, lembrava que quase todos os equipamentos públicos do bairro foram conquistas possíveis graças ao empenho de Boneli.
Em seu coração batia o sentimento de lapeanidade, o que lhe impulsionava a realizar eventos para que moradores, independentemente de classe social, se confraternizassem e se reconhecessem unidos a um vínculo comum: o ser lapeano. Exemplos disso não faltam: Natal Comunitário, Aniversário da Lapa, Dia Internacional da Mulher, Arraiá da Lapa, entre outros eventos.
Esse é o duplo legado que Boneli nos deixa. Por um lado é possível (e se faz necessário) lutar por aspirações comunitárias, indo a campo (muitas vezes minado) com vontade, firmeza, astúcia e, sobretudo com união. Por outro é desejável (e ousamos dizer, imprescindível) que continuemos a nos confraternizar, demonstrando que a gente da Região da Lapa é festeira por excelência e que isso tem um significado todo próprio, simbólico e prático ao mesmo tempo, algo que Boneli sabiamente conduzia: festança, para nós, lapeanos, não é evento propício apenas para nos (re)aproximarmos do outro e com ela estabelecermos vínculos de uma amizade sincera e verdadeira. As festas que organizamos servem para que cada vez mais nos articulemos e nos firmemos como comunidade organizada e capaz de levar adiante aspirações coletivas.

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