Alerta na Ceagesp

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“É um panorama complexo, que só vai ser resolvido se União, Estado e Município dialogarem entre si e com a comunidade do bairro”. Foi assim que, em março de 2006, o presidente da Ceagesp, Francisco Cajueiro, em entrevista ao Jornal da Gente abordava a questão das políticas sociais na região que circunda o maior entreposto de alimentos da América Latina.
Infelizmente, tais diálogos não aconteceram, mas nesses 18 meses, as coisas de fato mudaram, para pior, na Ceagesp e no seu entorno imediato. Quem circula pela região observa o aumento da miséria, estampada no rosto de homens, mulheres, crianças e até mesmo idosos condenados a viver em situação de rua ou em barracos. Quem acompanha o noticiário da cidade viu, pelas imagens da Rede Globo, como funciona o esquema de prostituição infantil dentro e fora do entreposto. Quem leu o Jornal da Gente ficou informado sobre o recrudescimento da intolerância social, com a difusão, nos bairros, de vergonhosos manifestos da exclusão assinados por vários moradores da Leopoldina, Hamburguesa e Alto da Lapa, que decidiram por uma Cruzada destinada a mandar para longe a miséria que lhes causa tanta náusea e repulsa.
Nos últimos meses, este jornal e setores engajados da comunidade lutaram para que os bairros da gente pudessem ser administrados por alguém com raízes locais. O secretário das Subprefeituras Andrea Matarazzo e o prefeito Kassab, sensíveis aos nossos apelos, costuraram um acordo e nos deram Luiza Nagib Eluf, egressa do Ministério Público e com uma história de vida intimamente ligada à defesa da cidadania e justiça social. Eluf sempre dedicou particular atenção aos direitos da mulher, repudiando veementemente a exploração sexual, sobretudo aquela infantil.
Ao olharmos para o contexto da Leopoldina e da Ceagesp, não podemos desperdiçar a grande experiência e militância da subprefeita da área social . Se assim o fizermos, estaremos assinando nosso atestado de incompetência. A hora é essa. Luiza Eluf deveria chamar para si a responsabilidade de alertar todos os setores (governos federal, estadual e municipal, além de empresários e sociedade civil organizada) para um diálogo capaz de produzir ações concretas e eficazes que ponham fim à miséria humana na Leopoldina. Muitos dizem que o bairro será a nova Moema. Por hora, ele está mais para Belíndia, o triste paradoxo da riqueza da Bélgica com a tragédia humana dos pobres da Índia.

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