Alerta de temporal

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Todo ano ouvimos a mesma história de que “choveu mais que o esperado para o período”. De fato, a chuva de segunda-feira foi atípica, mas não inédita, com transbordamento dos rios Tietê e Pinheiros. Talvez seja a hora de preparar a cidade para eventos que não são esperados.

É lamentável ver sete toneladas de alimentos descartados na Ceagesp pelo risco de contaminação. Também é muito triste saber que parte do trabalho realizado durante um ano pela Pérola Negra foi perdido e a escola de samba vai ter que se desdobrar para abrir os desfiles no sambódromo.

A questão da chuva e alagamentos está ligada a outras discussões na cidade como a mobilidade, já que muitas pessoas não puderam trabalhar pela impossibilidade de utilizar o transporte público. Mesmo para os motoristas de carros o risco de perder o veículo era muito alto e alguns não precisaram nem sair de casa para isso acontecer, já que garagens de prédios também foram tomadas pela água. A necessidade de moradia digna também é relacionada ao temporal. Cerca de 270 famílias das comunidades da Linha e do Nove, próximas à Ceagesp, perderam tudo o que tinham como móveis e eletrodomésticos.

Felizmente a mobilização da comunidade, envolvendo igrejas e entidades, tem sido grande e as doações emergenciais estão chegando. Já o PIU Vila Leopoldina/Villa-Lobos, que prevê habitação de interesse social para essas comunidades, precisaria de mais empenho dos vereadores para avançar. Que um projeto de reurbanização na Vila Leopoldina está para ocorrer não há dúvidas. A questão é que ele pode vir acompanhado de melhorias sociais ou não.

Nos últimos cinco anos, dados da Secretaria Municipal da Fazenda apontam que a Prefeitura reduziu os investimentos em obras de combate a enchentes e alagamentos e aumentou as despesas com recapeamentos e usinas de asfalto. Ou seja, mais impermeabilização. Isso sem contar os empreendimentos imobiliários que aparecem por toda parte. Quantos deles contam com um projeto de drenagem que não seja apenas “jogar a água para fora”?

A discussão sobre drenagem sustentável tem ganhado espaço na região, com a mobilização de moradores contrários ao projeto de construir piscinões em praças. Obras para absorver a água da chuva são necessárias, mas que não sejam em uma área verde, que naturalmente faz esse papel.

A cidade cresceu de forma desordenada e muitos dos problemas que temos hoje são consequências disso. Mais do que emitir alertas de temporal, instalar placas de “área sujeita a alagamentos” ou montar forças-tarefas para momentos de emergência, é preciso começar a implantar soluções que vão ter efeito nos próximos anos.

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