Expectativas

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O ano começa mas ao invés daquele sentimento de renovação, o clima é de expectativa. Por hora, 2021 nada mais é do que uma continuação de 2020. E nesse momento o assunto só poderia ser a aguardada vacinação. Cerca de 20 milhões de pessoas já foram vacinadas em 46 países, segundo a Organização Mundial da Saúde, enquanto os brasileiros seguem aguardando seu dia D e hora H. Que felizmente se aproximam.

As festas de fim de ano podem ter contribuído para o aumento do número de casos de Covid-19, mas outras aglomerações continuam a acontecer. Torcedores do Palmeiras lotaram as ruas do entorno do Allianz Parque para receber o time que veio disputar a vaga na final da Libertadores. Nada errado em demonstrar o amor pelo seu time, mas que para isso seja utilizada a criatividade para garantir a segurança. Muitas pessoas que estavam lá podem já ter tido a Covid-19, talvez de forma leve, mas é de se imaginar que elas tenham contato com alguém dos grupos de riscos. Se a necessidade de proteger a nós mesmos não for motivo suficiente, devemos ao menos ter consciência de que somos responsáveis por outras vidas.

Outra aglomeração foi a da Ceagesp, que realizou a distribuição de frutas, verduras e legumes na quinta-feira (14). A ação social já vinha acontecendo desde o ano passado, mas essa semana ocorreu em nova modalidade: ao mesmo tempo foi uma doação e um protesto. Faixas criticavam o aumento do ICMS e o governador de São Paulo João Doria. Sob forte pressão, o governo decidiu suspender a mudança nas alíquotas para medicamentos genéricos, alimentos, insumos agrícolas e energia elétrica para produtores rurais.

Pessoas vieram de várias partes da cidade para receber os kits, o que é compreensível em um cenário de desemprego e alta dos alimentos. Essas pessoas, que saíram de suas casas para vir até aqui em busca dos alimentos doados, e que talvez nem liguem para o clima rixoso entre os governos estadual e federal, estão longe de ser exceção.

Durante a semana, ao voltar de uma matéria na Vila Romana, vi uma mulher que estava pedindo dinheiro para os pedestres. Era possível notar que pedir não era algo com que ela estava acostumada. Ela contou que o marido perdeu o emprego no começo da pandemia e agora a situação estava mais difícil do que nunca. Moradores de bairros de classe média ou alta têm certo grau de desconfiança e tendem a achar que um pedido desses pode se tratar de um golpe. Mas não era o caso. É impossível não reconhecer um olhar de desespero ao se deparar com um.

Gostaríamos de ter a expectativa de que 2021 será melhor que 2020, mas as consequências estão em toda parte. Estão aqui. E a recuperação não será rápida.

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