Foi assustador o cenário deixado pelo temporal de quinta-feira. A chuva e o vento forte deixaram um rastro de destruição e morte. A área da Subprefeitura Lapa virou um caos. Mais de uma centena de árvores caíram na Cidade, metade na região (principalmente na Lapa, Leopoldina, Vila Romana e Perdizes/Pompeia). Algumas romperam a fiação da rede elétrica, deixando a região às escuras. Outras tombaram sobre carros ou ruas travando o trânsito.

O pintor de carros Lailson de Almeida de 23 anos morreu após ser atingido por descarga elétrica na Rua Albion. Testemunhas contam que ele tentava segurar o portão da oficina que balançava com a força do vento quando caiu na hora que o galho de uma arvore rompeu um cabo da rede elétrica que tocou o chão. O jovem foi socorrido na unidade da AMA do Hospital Sorocabana, mas não resistiu.

A cobertura da entrada da AMA 24h Sorocabana feita para proteger os usuários foi arrastada pela ventania. Durante o temporal, a passagem subterrânea Toca da Onça – que liga a região do Mercado a Lapa de Baixo – foi inundada. O local possui bomba de drenagem que auxilia no escoamento das águas. Segundo a Subprefeitura, para encher até o teto, como ocorreu durante o temporal de quinta-feira, é necessário um volume de água de mais de 250 mil litros.

Pelo menos cinco pedestres que estavam na passagem foram surpreendidos pela enchente no túnel. Segundo informações de um dos resgatados, quatro pessoas foram retiradas com ajuda de uma corda. Uma mulher arrastada pelas águas foi resgatada e encaminhada ao hospital. De acordo com a Subprefeitura Lapa, na madrugada de sexta-feira (21), agentes fizeram a limpeza da passagem que foi fechada na quinta-feira por conta da inundação. Após a conclusão dos trabalhos o túnel foi aberto aos pedestres.

As ruas da Vila Leopoldina e Pompeia (Raul Pompeia e Barão do Bananal) também ficaram inundadas. Além da passagem, foram registrados alagamentos intransitáveis na Rua Guaicurus com o Viaduto da Lapa. Carros foram arrastados pela água. A enchente também atingiu a Rua do Curtume com Guaicurus, próxima ao Poupatempo Lapa e Subprefeitura, onde motos e veículos foram levados pela força da água. Duas jovens que davam entrada no Seguro Desemprego na unidade do Poupatempo Lapa tiveram os carros invadidos pela água de chuva. Um deles foi arrastado junto com motos que estavam estacionadas na Rua do Curtume. A reunião do Conselho Participativo Municipal não foi realizada porque ninguém conseguia chegar a Subprefeitura.

Somente na Lapa foram 64,6 mm de chuva. O esperado para todo o mês de outubro é de 110 mm. A região ficou sem energia. Equipes da Eletropaulo, Bombeiros e de zeladoria da Subprefeitura da Lapa trabalharam durante toda sexta-feira (21) na remoção de árvores atingidas pelas chuvas e ventos intensos que atingiram o bairro.

Até à tarde de quinta-feira, o Sistema de Gerenciamento de Ocorrências Críticas (SGOC) registrou 55 quedas de árvores (ou galhos) na subprefeitura. “Como a maior parte da região ficou sem energia elétrica, sem telefone e sem celular, estão chegando muitas ocorrências hoje (sexta-feira). Vamos trabalhar dia e noite até resolver todas”, afirmou o subprefeito da Lapa José Antonio Varela Queija que vai colocar a equipe na rua neste final de semana.
Além de limpar os bueiros, ruas, e remover árvores caídas, a equipe da Subprefeitura terá que correr para fazer podas e evitar queda de novas espécies, prevenindo novo caos e mortes como a que ocorreu na Rua Albion. Então, mãos à obra!

Um encontro entre amigos. Foi esse o clima que marcou o baile de abertura do aniversário dos 426 anos da Lapa, na terça-feira. O evento foi simples, mas reuniu moradores, representantes de entidades, empresários e políticos num resgate da memória do bairro.
Entre uma música e outra, a conversa sempre ensejava pedidos para que a comissão organizadora dos festejos realizasse novos bailes para a confraternização comunitária, ali mesmo, no salão da Sociedade União Fraterna, famoso por unir casais na pista do prédio histórico. Não foi diferente na terça-feira, o evento contou com a presença de mais de 300 pessoas. Uma banda de rock and roll animou a noite. A pista foi tomada por pessoas de todas as idades. Foi divertido. Atendendo aos pedidos, a comissão já pensa em promover um novo baile, dessa vez para a confraternização do fim de ano. O objetivo é reunir as entidades da Lapa em uma grande festa. Outro baile que está quase certo é o Baile de Máscaras no Carnaval 2017.

No feriado do dia 12, colecionadores e amantes de carros antigos levaram para o passeio em homenagem ao aniversário da Lapa mais de 80 raridades para circular pelas ruas do bairro.
No fim do desfile, os veículos ficaram em exposição na Praça John Lennon para alegria de admiradores. Estavam entre as raridades exemplares da Romi-Iseta e da Kombi usada por Orlando Villas Bôas para atender os índios do Xingu.

Os colecionadores de caros antigos também já se movimentam para realizar outros eventos com exemplares de coleção no bairro. Essa união e desejo coletivo tem bênção divina. A explicação pode estar no nome da Lapa que surgiu quando um morador português que, ao se mudar para o bairro, trouxe uma imagem de Nossa Senhora da Lapa, e construiu uma gruta, para a santa. A comunidade se desenvolveu em torno da imagem e o lugar passou a ser chamado de Nossa Senhora da Lapa e logo o bairro ficou conhecido apenas pelo último nome: Lapa, que significa “grande pedra que forma um abrigo”.

A primeira notícia sobre a região é de 1581, quando os jesuítas receberam uma sesmaria junto ao Rio Emboaçava, depois chamado Pinheiros. Para o escoamento da produção de café para o mercado externo, foi fundada em 1860 a “Association of the São Paulo Railway Co. Ltda”. Em 1867 foi inaugurada a estrada de ferro ligando Santos a Jundiaí, que passava por São Paulo, com algumas estações intermediárias. Uma delas na Água Branca.

De lá pra cá a paisagem mudou, mas a Lapa continua abençoada no nome e até na data de aniversário que coincide com o Dia de Nossa Senhora Aparecida. Seja para exercitar a fé, lazer ou cidadania, os encontros são sempre bem vindos na comunidade.

O lapeano é assim: gosta de reuniões, de contar e fazer parte da história. Afinal já se vão 426 anos.