Abismos sociais

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Eduardo Fiora

De um lado um bairro altamente valorizado em termos imobiliários, com novos e elegantes edifícios sendo entregues a preços nada modestos: algo em torno de R$ 3 mil o metro quadrado. Por outro, uma região excludente, repleta de crianças, adultos e idosos não-cidadãos, já que lhes faltam condições adequadas de habitação, saúde e trabalho. Esse é o perfil da Vila Leopoldina, um bairro de enormes contrastes oscilando entre o bem estar da Vila Hamburguesa ou City Lapa e a fragilidade social do entorno: caixaria do Ceagesp, proximidades das Avenidas Roberto Zuccolo e Imperatriz Leopoldina.
Um exemplo bem claro desse quadro excludente é situação da população residente num alojamento, localizado atrás dos pavilhões do ITM Expo, na rua Rodrigo Daunt. Em março de 2003, a prefeitura resolveu desalojar as 55 famílias que moravam em barracos montados debaixo do Viaduto Mofarrej, transferindo-as para um alojamento em área municipal dentro do Jardim Humaitá. “Disseram que, no máximo, em três meses mudaríamos para um lugar definitivo. Mas isso não aconteceu”, protesta o carroceiro Sassá.
Atualmente, a comunidade ocupa 58 casas, intercaladas em três blocos, formando corredores que, na verdade, são verdadeiras ruelas não pavimentadas. Elas abrigam mães e pais desempregados ou ganhando o equivalente a um salário mínimo em subatividades. “Que futuro podemos prever para nós e nossos filhos?”, questiona, indignada, Rosemeire Silva, uma das moradoras, que afirma não receber nenhum benefício dos programas públicos assistenciais.
Segundo a Subprefeitura da Lapa, a transferência dos moradores do alojamento Humaitá para moradias definitivas depende de verbas da Secretaria Municipal da Habitação. No entanto, o orçamento aprovado em 2004, simplesmente ignorou o problema, que continua se arrastando. “Temos o maior interesse de por fim a essa situação, mas isso só irá ocorrer em 2006”, afirma Carlos Alberto Ribeiro, coordenador da Defesa Civil da Subprefeitura.
Já em relação ao atendimento social dos alojados, a prefeitura rebate, afirmando que o trabalho no local é de difícil execução, pois existem grupos interessados em impedir o acesso dos assistentes.
Das 52 famílias que foram fixadas no alojamento Humaitá em 2003, somente 17 continuam por lá. As demais chegaram depois, segundo a subprefeitura da Lapa.

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