Uma questão mal resolvida

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Quem passa de carro ou a pé pelas cercanias da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Vila Leopoldina, logo se surpreende com o volume de caixas de madeira empilhadas, prontas para uso.
Vistas de longe ou captadas pela lente de um competente fotógrafo, elas formam um interessante desenho.
No entanto, uma análise mais apurada desse cenário aponta para uma tela cheia de problemas, que vão desde fatores referentes à higiene até aqueles de ordem econômica. O ponto central dessa problemática é uma Instrução Normativa de 2002. Ela estabelece, entre outras cosias, que “as embalagens destinadas ao acondicionamento de produtos hortícolas ‘in natura’ devem ser mantidas íntegras e higienizadas” e “podem ser descartáveis ou retornáveis; as retornáveis devem ser resistentes ao manuseio a que se destinam e não devem se constituir em veículos de contaminação”. Longe de atender a essa determinação, a região da caixaria, no em torno do Ceagesp, mostra que as leis, muitas vezes, são feitas sem levar em conta o contexto real da vida cotidiana. “Em termos de higienização, o ideal é o uso do plástico, ao invés da madeira”, afirma o subprefeito da Lapa, Paulo Magalhães Bressan. Essa opinião é igualmente compartilhada pelo técnico de Mercado do Ceagesp, Cláudio Inforzato Fanale, que, no entanto, faz uma ressalva. “O problema é o alto custo da caixa plástica em relação àquela de madeira, o que inviabiliza a total substituição de uma pela outra”.
A caixa mais utilizada no entreposto é a aquela conhecida como “K”, feita de madeira, material de difícil higienização. “Elas deveriam ser descartadas após o primeiro uso, explica Fanale. Porém, dada cultura estabelecida e ao fato de a caixa de plástico custar até 4 vezes mais, é comum a reutilização da caixa k.

Locação como alternativa

Uma das medidas adotadas pelo Ceagesp para fazer com que, gradativamente, a madeira ceda lugar ao plástico, foi proibir a entrada de caixas K vazias no entreposto. Outra ação foi a abertura de uma licitação vencida pela Central de Embalagens (CE), introduzindo um sistema de higienização e locação de caixas plásticas. Por meio deste programa, as caixas plásticas são limpas e reparadas para o seu reúso. A CE aluga essas embalagens pelo contrato mínimo de 24 meses. “Em comparação com outros tipos, essas caixas oferecem maior durabilidade e resistência, são totalmente recicláveis, além de não absorverem água, ”, diz Luis Anselmo Ribeiro, coordenador da CE.
A realidade que se confronta com os aspectos puramente legais ou higienicamente corretos também apresenta o seu lado social problemático. O censo de 2000 indicava que dos 48.000 habitantes do perímetro urbano da Vila Leopoldina/Jauguaré, cerca de 14.500 residiam em habitações subnormais, sobrevivendo das sobras, ou das atividades ligadas à distribuição de alimentos. A caixaria é uma delas. Sendo assim, seria necessária uma ação ordenada, capaz de integrar os caixeiros da “idade da madeira” à era do plástico. Mas como pôde apurar o Jornal da Gente, nem por parte do poder público nem da iniciativa privada existem, atualmente planos para uma reinserção social deste porte.

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