Diário da Quarentena 2

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Cada um tem sua crença, sua espiritualidade, ou a ausência dela, e suas motivações. Eu particularmente nunca tive muita confiança de que existe algo depois do agora, dessa vida, e por isso sempre achei muito importante aproveitar cada momento ao máximo. Eu acredito que viver importa. Todo o resto dá para resolver.

Neste momento de crise, parece que muitas pessoas querem testar na prática a seleção natural. Estão discutindo o que chamam de isolamento vertical e horizontal, mas de que adianta as pessoas mais suscetíveis às complicações ficarem em casa enquanto as demais saem para trabalhar, se essas têm grandes chances de voltarem com o vírus e contaminarem quem ficou?

Tem também quem diga que se deixarmos a economia piorar, aí sim que muitas pessoas vão morrer. E falam isso como se a economia estivesse de fato boa antes da pandemia. Como se não tivéssemos índices altíssimos de emprego informal e subemprego. Como se as pessoas nos últimos anos já não tivessem que “empreender” para conseguir pagar suas contas básicas e colocar comida na mesa. Infelizmente a maior parte do nosso empreendedorismo não é motivado por pessoas que tem boas ideias e querem desenvolver seu negócio para prosperar, ele surge das necessidades extremas de sobrevivência. O famoso vender o almoço para comprar o jantar.

Talvez uma das coisas mais interessantes e bonitas do ser humano seja a sua capacidade de transpor desafios, lidar com gargalos e superar crises. Temos que resolver como diminuir o impacto na economia que a pandemia já causou e vai causar nas próximas semanas ou meses. Mas isso só poderá ser feito se continuarmos aqui.

O propósito desse isolamento não é reduzir a mortalidade causada pelo coronavírus, mas sim diminuir sua velocidade de propagação e evitar um colapso dos sistemas de saúde público e privado, porque se isso ocorrer aí sim muitas pessoas que teriam chance de se curar vão acabar morrendo.

É evidente que precisamos de mais equipamentos de saúde. Em especial de um hospital como o Sorocabana para atender a grande parcela da população que não tem plano particular. Em um panorama em que todos os sistemas de saúde perderem sua capacidade de atendimento, mesmo quem paga valores altíssimos por uma cobertura vai ficar muito satisfeito ao saber que pode contar com um equipamento de atendimento universal, perto da sua casa.

Se é possível adaptar um estádio e um complexo como o Anhembi para receber leitos, nenhum argumento de natureza jurídica, política ou estrutural será suficiente para justificar que o hospital permaneça fechado. Precisamos trabalhar, precisamos consumir. Mas para isso precisamos de saúde.

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