Higienização social

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Ao retirar os caixeiros de circulação, o poder público não oferece qualquer contrapartida

A região no entorno da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), na Vila Leopoldina, vive dias de grande agitação.De um lado, ações da Subprefeitura da Lapa tentam retirar das calçadas, e também de grandes terrenos, as dezenas de caixarias que foram montadas no bairro, fruto da atividade do principal entreposto de alimentos da América Latina. Por outro, grandes incorporadoras já começam a ocupar espaços, deslocando um certo número de caixarias, com o objetivo futuro de erguer no local empreendimentos imobiliários.
O Jornal da Gente ouviu, com exclusividade, os principais agentes envolvidos nessas questões e faz um balanço dessa situação sob o ponto de vista da questão imobiliária.

Futuras incorporações

Em ruas como Aroaba e Frobem, coração da atividade dos caixeiros, alguns terrenos foram comprados, indicando a incorporação pelo mercado imobiliário. Empresas como FAL2, Pau- Brasil e Agra, por exemplo,exibem placas em pelo menos dois terrenos na Leopoldina mostrando a posse de propriedade.
Um deles, de 800 metros quadrados, na Rua Aroaba, foi desocupado recentemente. Segundo um dos caixeiros vizinhos, o dono da caixaria que funcionava no lugar teria recebido cerca de R$ 50 mil para deixar o local, abrindo as portas para a negociação entre proprietário do terreno e futuros incorporadores
Ao lado dessa área já negociada, existe um terreno de 39 mil metros quadrados, ocupado por dezenas de empresas, formais ou não, que manipulam caixas de madeira usadas ou até mesmo novas. Trata-se de uma propriedade em processo de espólio envolvendo vários herdeiros, com os quais as incorporadoras têm mantido freqüentes contatos. Mas, segundo uma fonte ligada a essas empresas do setor imobiliário, qualquer opção de compra e venda tem de ser precedida da retirada dos caixeiros que atuam nesse terreno há quase 15 anos. Assim, os incorporadores buscam uma solução negociada. A informação que circula na caixaria da Ceagesp dá conta da seguinte proposta feita pelo mercado imobiliário: seria cedido um terreno em Osasco com área suficiente para receber todos os caixeiros que hoje atuam nesse imenso terreno da Rua Aroaba. A oferta teria sido recusada, pois os caixeiros consideram a localização ruim, do ponto de vista da atividade que exercem. Essa mesma fonte ouvida pelo Jornal da Gente nega a existência de tal proposta.
Segundo ela, ainda é cedo para se avaliar qual o tipo de empreendimento pode ser erguido numa área superior a 39 mil metros quadrados. A princípio, seriam torres residenciais. De qualquer modo, na visão dos incorporadores, tudo depende da desocupação de um grande terreno a ser feita de forma pacífica. Se isso acontecer, novas torres surgirão na Leopoldina, mesmo que o entorno da Rua Aroaba continue deteriorado. É que os empreendedores acreditam em mudanças mais profundas no cenário urbano, justamente a partir da construção dos primeiros edifícios na região.

Lucros e perdas

Do ponto de vista dos cofres municipais, o movimento especulativo da indústria imobiliária na região da Ceagesp é altamente lucrativo. De imediato, a incorporação legal dessas áreas, com dívidas altíssimas de IPTU, geraria receita imediata. Não é à toa, portanto, que a Subprefeitura da Lapa tenha iniciado, em fevereiro, uma série de blitze nas caixarias montadas nas calçadas ou nos terrenos do bairro. Segundo o chefe de gabinete da subprefeitura, Roberto Nappo, esse tipo de comércio funciona irregularmente, e “cabe ao poder público ações de fiscalização e autuação”. Questionado sobre qual seria a política social – emprego e moradia, por exemplo – adotada pela prefeitura municipal numa eventual retirada em massa dos caixeiros leopoldinenses, Nappo foi objetivo em sua reposta. “Isso não é da alçada da subprefeitura”.
Porém, vem dos próprios caixeiros e de suas famílias, uma pergunta que parece não querer calar: “É fácil falar que atuamos ilegalmente. Mas, se sairmos daqui, como é que vamos ganhar o suficiente para morar e comer ?”
Sem entrar no mérito da questão imobiliária em si, mas tendo uma visão global da situação da caixaria, o presidente da Ceagesp, Francisco Cajueiro aceita colocar o dedo na ferida. “É um panorama complexo, que só vai ser resolvido se União, Estado e Município dialogarem entre si e com a comunidade do bairro”, afirma Cajueiro.

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