Básico vira resistência

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Tudo está tão fora do normal e não é só por causa da pandemia. O bom senso que deveria ser majoritário dá sinais de que não é tão comum assim. É sempre válido fazer o exercício de conversar com pessoas diferentes de nós, porque muitas vezes ficamos nessa “bolha” de contatos que pensam igual e achamos que é possível generalizar, como se todos pensassem da mesma forma, compartilhassem dos mesmos valores.

Em tempos de negacionismo, polarização e impossibilidade de diálogo, nada deve ser presumido. Para garantir que algo foi entendido, que a mensagem chegou ao receptor e que aquilo que foi dito será realizado, é preciso registrar e “reconhecer firma” pois os discursos estão cada vez mais vazios. E é justamente aí onde está o problema: muitos discursos e imagens criados para convencer e pouco diálogo e construção.

Ter mais livrarias como a recém-inaugurada Pé de Livro na Pompeia, poderia preparar a próxima geração para não cair nas armadilhas que nós caímos e nos encontramos hoje. Como achar normal ficar 5, 6, 7, 8 horas ou talvez mais diante de telas? E quanto desse tempo realmente é utilizado para algo produtivo?

Para ser justa, tem quem esteja diante das telas para tentar fazer algo bom, como todos os moradores e representantes de associações que se manifestaram na audiência pública sobre a concessão dos parques da região. Comodamente, em um evento virtual é muito mais fácil controlar as falas, já que é possível cortar o microfone de alguém ou ignorar um comentário por escrito. Esse tipo de evento não permite sentir a “temperatura” do que está acontecendo. As demandas são anotadas, uma resposta evasiva ou vaga é dada, e o plano original é seguido. E no caso da concessão as falas foram muito importantes porque não é uma questão de ter uma visão política x ou y, ser contra ou a favor da privatização, mas de proteger um patrimônio público, garantir que um trabalho benéfico que levou anos para ser desenvolvido, como o do MuGeo e do Grupo Escoteiro Tiradentes, não seja perdido e que o interesse coletivo se sobreponha à vantagem econômica.

Divulgar 600 páginas de documentos para logo em seguida fazer uma audiência virtual e limitar a participação para quem conhece o funcionamento dos conselhos gestores é o caminho mais adequado? Até quando a opinião da população será consultiva ao invés de deliberativa?

Por isso que defender o meio ambiente, a educação, a cultura, a saúde, a construção conjunta da cidade, todas essas coisas que deveriam ser bom senso, se tornaram uma forma de resistência.

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