Promessas

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Diante da semana em que foi proclamada a independência do Brasil, que mais do que um brado por liberdade e identidade nacional, foi uma manobra política, é sempre bom refletir sobre as relações de poder. Até porque nos últimos anos a data tem sido utilizada para fins eleitoreiros, desvirtuando mais uma vez o seu valor histórico. Não existem muitas evidências de que o “Grito do Ipiranga” de fato tenha acontecido, mas no nosso clima político atual, tem muita gente tentando falar mais alto do que seus adversários, distorcer informações e, sobretudo fazer promessas.

Todo mundo que acompanha a política sabe que o período de campanha é a hora em que os candidatos prometem mundos e fundos se, em contrapartida, puderem ter o seu voto. Quando a eleição é municipal, a relação acaba sendo muito mais próxima, seja com o Prefeito ou vereadores, que são moradores da cidade, conhecem seus vizinhos, os problemas do bairro e serão muito mais cobrados se não resolverem ou ao menos encaminharem os problemas. Podemos ir até à Câmara Municipal e falar diretamente com os nossos representantes. Na Assembleia Legislativa também é possível, embora o acesso seja um pouco mais restrito do que na Câmara, a começar pelo fato de que pode ser difícil encontrar o deputado que se deseja conversar por lá. Muitos deles cumprem agendas em outros municípios que precisam de sua atenção e portanto se ausentam da sede. Pelo menos é isso que dizem.

Quando falamos em Congresso Nacional, nos Ministérios, nas atividades que se desenrolam em Brasília, tudo fica ainda mais distante. Quem passou muito tempo na esfera da política institucional federal pode não saber as dificuldades da política na prática. Durante a semana o candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas esteve na região em campanha. Em sua passagem pelo Mercado da Lapa e Rua Doze de Outubro, falou de um projeto no mínimo ousado, que ainda precisaria ser estudado. A proposta seria a de rebaixar as linhas férreas, liberando uma área de 2.300 hectares (23 mil m²) para a reurbanização e adensamento nos bairros que ficam na várzea do Tietê (nós, da Lapa, estamos incluídos).

Espaço livre e reestruturação para se ter mais qualidade são muito bem-vindos, mas como fazer essa obra de custos altíssimos? Para o candidato, uma possibilidade é a emissão de Cepacs, o mesmo instrumento que há anos é alvo de discussão na Operação Urbana Água Branca, sempre com a dificuldade de encontrar um denominador comum entre o interesse coletivo e o do mercado. Difícil acreditar que aquilo que se complica no micro vá funcionar no macro. Falo do Tarcísio apenas por causa de sua visita à região, mas o exemplo se aplica a todo e qualquer candidato, de todos os cargos da eleição.

Nos próximos meses não vão faltar promessas que parecem lógicas e interessantes, mas quem acompanha determinadas áreas temáticas, seja a saúde, educação, segurança, sabe que é na prática, no dia a dia, que as coisas se complicam. As eleições vão passar, então é fundamental escolher quem tem projetos sólidos ao invés de promessas.

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