Freio na verticalização

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EDUARDO FIORA

“Não se poderia permitir o início de qualquer obra sem antes ter em mãos um estudo do tipo de solo onde ela será implantada. A Lapa e Leopoldina, por exemplo, cresceram onde antes existia uma grande várzea. Se no subsolo existe um extenso lençol freático, o politicamente correto em termos ambientais é que se torne obrigatório o estudo do impacto da construção nessa camada geológica”. Quem sustenta essa posição é a geóloga Rosmari Zegna, do Instituto de Pesquisa Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT). Ela, ao lado de outros especialistas reunidos para um encontro com a reportagem do Jornal da Gente, avaliou a rápida e desordenada verticalização que tomou conta desses dois bairros da Zona Oeste da capital.
Pela lei atual, não cabe à prefeitura fiscalizar o subsolo da cidade. O papel fiscalizador do poder público se restringe às edificações. “A revisão do Plano Diretor é uma boa oportunidade para se tocar nesse assunto”, afirma a arquiteta Lucila Lacreta, que atua no Movimento Defenda São Paulo. Ela aponta um outro problema quanto à questão dos lençóis freáticos, algo que vai além da verticalização. “Se formos abordar essa questão sob o ponto de vista de outras construções, como postos de gasolina, vamos ver que muitos teriam de ser interditados ou até mesmo fechados para a segurança da população”.
O crescimento vertical também causa preocupação no tocante a impermeabilização do solo. Com limitações na construção de garagens subterrâneas, dada à presença de lençol freático, as construtoras acabam optando por transformar em subsolo a área do edifício já no nível da rua. “Para oferecer a cada apartamento duas ou mais vagas na garagem, e não tendo subsolo à disposição, o nível térreo, que poderia abrigar áreas verdes, recebe uma camada de concreto”, afirma o engenheiro civil Sidney de Oliveira, ligado ao Mover (Movimento de Oposição a Verticalização). “Isso, numa cidade como São Paulo é preocupante, pois acentua ainda mais um outro grave problema urbano, que é a impermeabilização do solo”, acrescenta, em tom de alerta, o geólogo Alcides Trangipiani, também militante do Movimento.

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