Moti é tradição de família

0
1517

Foto:

Família Akiyama mantém tradição

Dizem que dá sorte comer moti no primeiro dia de janeiro. A receita do poderoso bolinho japonês feito de arroz chegou ao Brasil trazido pelas mãos de imigrantes como os pais e avós de Julia Tomoe Akiyama, família que também comemora o centenário da imigração janponesa no Brasil. Casada com outro descendente de japonês, Julio Akiyama, Julia mantém a tradição que aprendeu vendo a avó paterna fazer o moti. A receita foi passada para seus filhos, Renata e Ricardo, que participam do preparo do bolinho da prosperidade, feito em família, todos os anos, sempre no início de dezembro, para ser consumido no ano novo.
Julia conta que a elaboração do moti reúne cerca de 22 pessoas, todos familiares. Várias gerações participam do preparo da receita, desde a mãe de Julia, Yoshiko (95 anos), até suas tias de 92 e 86 anos, filhos e crianças (yonsei e gossei). “O moti leva quase um dia inteiro para ficar pronto”, afirma Julia. “São usados três quilos de arroz por vez. Primeiro a gente põe de molho por 24 horas, depois coloca em um pano e leva para cozinhar no vapor. Quando o arroz fica macio é colocado no “usu”, um pilão onde ele é socado”, revela Julia.
O ritual tem a participação dos homens da família como Julio e Ricardo que são incumbidos de socar até transformar o cereal em uma pasta. Renata é a responsável por virar a massa quente. “Minhas mãos ficam vermelhas e chegam a soltar a pele por causa da alta temperatura, mas vale a pena. Para nós é uma ótima reunião para ver a família e amigos”, diz Renata.
Essa união tem explicação. Os antigos japoneses acreditavam que o fato de comer moti unia os espíritos dos cereais e dos homens. Deve ser verdade, a família de Julia é o retrato da união e da felicidade. Eles não se arriscam a entrar o ano sem comer o moti.
O respeito pelo arroz também é tradição entre os Akiyama. “Não piso em arroz, nem se estiver caído no chão do supermercado”, conta Julio, um engenheiro aposentado pela Ford que presta serviços na área automotiva e dá aula de mecânica de transmissão no Senai da Leopoldina.
Desde os tempos antigos, os japoneses, um povo historicamente agrícola, tinham o costume de rogar às divindades boas colheitas de seus principais cereais (gokoku houjou): arroz, trigo, soja, painço, sorgo e milhete, no início de cada ano.
Estes rituais se firmaram como tradição no século XIV . Seu significado foi ampliado remetendo ao desejo de felicidade da família, da sociedade e da nação.
Os altares domésticos assim como os espaços considerados sagrados das salas e dos quartos japoneses são ornamentados com moti. Tradição que a família Akiyama segue até hoje.

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA