Avaliação da crise no trabalho

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Professor Eduardo Basaglia deu boas-vindas ao palestrante Walter Barelli

Uma descrição objetiva sobre os efeitos
da crise global na economia brasileira, sobretudo na dinâmica das
contratações e demissões no comércio, indústria, serviços e
agropecuária. Foi esse o panorama da palestra do ex-ministro do
Trabalho (governo Itamar Franco), Walter Barelli para alunos do Ensino
Médio do Colégio e dos Cursos Superiores das Faculdades Integradas
Campos Salles, na segunda-feira, 21 de setembro.
Boa parte da palestra de Barelli teve como foco o nível de emprego no
Brasil comparando o cenário anterior à crise econômica com o momento
atual da economia nacional. “Estatísticas, como dizia Roberto Campos
(ministro da Fazenda em governos militares) é como biquíni: mostra
quase tudo, mas encobre o essencial”, disse o economista ao exibir
dados da evolução de emprego em 2008 e 2009.
Com base nos dados do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged)
divulgado pelo ministério do Trabalho, Barelli mostrou que existe uma
recuperação no nível de contratações, mas ainda abaixo do desempenho
verificado no período pré-crise global, que teve como marco inicial a
quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em setembro do ano
passado.
Indicar que em junho de 2009 o saldo das contratações menos demissões
foi positivo (119.495 vagas), e que no mês seguinte esse número foi
ainda maior (139.402), seria mostrar “quase tudo”, de acordo com o
falecido economista Roberto Campos. O essencial, segundo Barelli, é
comparar esses dados. Se ao invés do mês de julho, pegarmos como base
os sete primeiros meses de 2008 em comparação ao mesmo período de 2009
vamos verificar o seguinte quadro: o saldo a favor das contratações de
janeiro a julho do ano passado foi de 1.564.606 enquanto que de janeiro
a julho deste ano, esse número cai para 299.506. “Há de fato uma
recuperação no nível de emprego quando se compara junho e julho de
2009, mas vemos que é um quadro bem inferior à realidade vivida no ano
passado, antes da explosão da crise no mercado financeiro mundial”,
salienta Walter Barelli.

Precipitação

Na opinião do ex-ministro do Trabalho, assim que a crise começou a
varrer os mercados em todo o globo, grandes empresas no Brasil passaram
a demitir mais por conta do pânico do que por conta de uma
racionalidade de gestão. “Acredito que houve uma precipitação nas
demissões em grandes grupos como a Companhia Vale do Rio Doce e
Embraer. A crise veio e os executivos procuraram passá-la adiante,
usando do instrumento da demissão. Mas outros segmentos procuraram agir
de forma diferente. A indústria automotiva foi um deles. Nesse caso a
política aplicada foi a de férias coletivas ou então o uso do banco de
horas”, lembrou Barelli. Já o setor bancário brasileiro, diferentemente
de outras partes do mundo, absorveu bem a crise, por conta de uma
reestruturação feita no governo FHC. “O Proer (Programa de Estímulo à
Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), foi
duramente criticado. Mas essa crise mostrou sua validade”.

Quem é Walter Barelli

Nascido em São Paulo, capital, em julho de 1938, é economista e
professor universitário da Unicamp. Formado em economia e pós-graduado
em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade de São Paulo, tem
doutorado em economia. Foi deputado federal pelo PSDB-SP. Atuou também
como Ministro do Trabalho (1992 – 1994) do Governo Itamar Franco e
secretário do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo nos
governos Covas e Alckmin. Como diretor técnico do DIEESE por 23 anos
(1967 – 1990), tornou seu nome definitivamente ligado à causa dos
trabalhadores.
Em São Paulo, Barelli foi responsável pela implantação de dois dos
programas de maior impacto junto à população de baixa renda e aos
micro-empreendedores: as Frentes de Trabalho para desempregados e o
Banco do Povo Paulista. O sucesso da iniciativa é até hoje comprovado
pelos baixíssimos índices de inadimplência. O Banco do Povo Paulista
empresta a 1% ao mês.
Além de estimular o empreendedorismo, Barelli implantou na secretaria
paulista outros programas de apoio à juventude: Jovem Cidadão – Meu
Primeiro Trabalho e Jovem Cidadão – Serviço Civil Voluntário, ambos
destinados a abrir oportunidades especialmente aos jovens em situação
de risco social. Outra iniciativa, o Programa de Auto-Emprego (PAE),
ajudou a capacitar a população das regiões mais carentes do Estado,
fomentando a formação de cooperativas de trabalhadores e propiciando a
criação de mais de 780 empreendimentos populares.
Atualmente, é conselheiro do Instituto Via de Acesso, ONG que prepara
jovens para o mercado de trabalho, marcando sua atuação também no
terceiro setor.

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