Uma obra absurda

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Em dias de caos na maior metrópole da América Latina, os bairros da Lapa, Leopoldina e Jaguaré, apesar de não terem sido palco de atos de violência, também sentiram o reflexo do clima de insegurança que se espalhou pela cidade e alterou o nosso cotidiano.
Ainda sob o impacto dos últimos acontecimentos, a vida da gente buscava reencontrar seu prumo, sempre em meio a conversas e controvérsias sobre o tema violência, seja no ambiente familiar, religioso, escolar ou de trabalho. Nesse contexto, a reportagem do Jornal da Gente flagrou singulares cenas e diálogos. Num deles, o morador da Leopoldina questionava: “será que o Cláudio Lembo (governador de São Paulo) vai insistir na construção de uma unidade da Febem ao lado do Cadeião?”
Face ao atual cenário, uma outra pergunta tem de ser feita ao juiz que derrubou a liminar de embargo às obras já em andamento: qual o argumento lógico a sustentar, agora, o convívio lado a lado de dois estabelecimentos penais tão díspares, com o risco escancarado de o ambiente do Cadeião comprometer o trabalho de recuperação dos menores infratores?
O governador Cláudio Lembo disse, na quinta-feira, 17, que não vê a hora de deixar o cargo “uma honra que me teve um custo emocional muito grande. (…). Deus há de me ajudar que o tempo passe depressa”.
De fato, o tempo passa e as obras de construção da Febem Leopoldina continuam, apesar dos protestos da comunidade e do firme posicionamento da Promotoria da Infância e Juventude. Antes que um futuro e previsível colapso dessa unidade penal para menores venha adicionar carga extra no já abalado ânimo do chefe do Executivo paulista, o momento atual impõe uma ação imediata: o cancelamento desse projeto, que, se nasceu temerário, hoje beira às raias do total absurdo.
Em tempo, vale aqui o registro do silencioso ato de reflexão por parte de um oficial da PM durante uma missa, na qual o sacerdote lembrava a tragédia paulistana dos últimos dias. Ajoelhado durante boa parte da celebração, de certo ele também buscava conforto para seu espírito, ao lembrar e orar, interiormente, pelos companheiros de farda que acabara de perder. Ajoelhado, certamente ela buscava na sua profissão de fé, o equilíbrio e a força necessária para continuar, com o fazem tantos outros bravos policiais, a servir à sua gente, mesmo que isso signifique colocar em risco a própria vida.

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