A invasão de casas abandonadas no bairro da Vila Hamburguesa por moradores de rua mobilizou a classe média da região. Capitaneados pelo síndico de um condomínio na Rua Paulo Franco, um grupo de pessoas aderiu ao abaixo-assinado, solicitando da Prefeitura “providências urgentes quanto à retirada dos invasores por estarem causando muita sujeira na calçada e acúmulo de lixo dentro e fora dos imóveis invadidos”
A iniciativa gerou polêmica no bairro e chegou até o Conselho Tutelar da Lapa, que se mostrou preocupado com o quadro de exclusão e intolerância social. “Fomos até o local pois recebemos a informação de que existiam crianças morando nas casas invadidas”, explica o conselheiro Armando Hussid. “Constatamos que por falta de documentos elas estavam fora da escola. Ajudamos os pais a providenciar a documentação e garantimos a matrícula das crianças em escolas”
A ação do Conselho contrasta com o desejo do grupo que aderiu ao abaixo-assinado. “Visitamos as casas invadidas e não encontramos lixo ou sujeira. Estão pedindo a expulsão dessas famílias. Mas cabe perguntar: para onde irão? Voltarão a morar nas ruas do bairro? Como é que ficam os recém-nascidos que estão no local?”, questiona Hussid, propondo uma serena reflexão por parte da sociedade.
Sem futuro
Despejada de um imóvel, Elizângela acabou encontrando abrigo numa das casas abandonadas. Mãe de três filhos, o menor com três anos, ela desabafa. “Fui morar na rua, perto da (avenida) Imperatriz Leopoldina. Enquanto eu estava lá, não incomodava ninguém. Agora eu e meus filhos viramos problema para os vizinhos. Falam que somos sujos. É mentira. Tudo aqui foi limpo (informação confirmada pelo próprio Conselho Tutelar). Sabemos que esse imóvel não é nosso. Queremos apenas que o governo nos dê um lugar para morar”.Essa situação entra em conflito a Constituição Federal, que garante o direito à propriedade. “Não se trata de uma propriedade qualquer, mas sim de algo minimamente digno”, costuma lembrar a ex-secretaria de Justiça e docente das Faculdades Campos Salles, Eunice de Jesus Prudente.
