Um brinde especial

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Eduardo Fiora

A vida cotidiana na Lapa ganha novos contornos neste mês de outubro, quando o bairro completa 415 anos. Na linha do tempo, minhas memórias locais são recentes. Passei a semana tentando resgatar a primeira vez que, enquanto cidadão paulistano, pisei em solo lapeano. Consegui chegar ao ano de 1982. Na época, aos 20 anos, eu flertava com uma garota que morava na rua Monteiro de Melo. Conheci Rejane numa época em que pensava me tornar dentista. Estudávamos na mesmo faculdade, em Santo Amaro. Foi uma doce e ardente paixão da juventude, que registrei em prosa e verso, num caderno guardado, ainda hoje, no meu arquivo pessoal, uma série de caixas de papelão onde separo de tudo um pouco: textos, imagens, cartas e objetos.
Ao revirar nesta semana todas essas caixas, encontrei outras pistas que revelam minhas antigas idas e vindas à Lapa. Reli uma entrevista que fiz com Mino Carta, na sede da Editora3, na rua Willian Speers. Foi ótimo relembrar como Mino detonou os grandes magnatas da imprensa brasileira. Com certeza foi uma das mais significativas entrevistas que realizei, recheada de contextos históricos. O ano era 1987. E na linha do tempo particular, ele tinha um significado especial: marcava exatamente o primeiro quarto de século da minha vida. Nos anos seguintes continuei a freqüentar a Lapa, realizando trabalhos para revistas da Editora Globo, (rua do Curtume), onde tive a felicidade de atuar na equipe do jornalista e meu professor da PUC, Gabriel Tranjan, que a vida cotidiana, precocemente, decidiu chamar para outras aulas, desta vez nas alturas.
Nessa época, a Lapa, para mim, era apenas um lugar de passagem. Não imaginava que tempos depois, em 1998, eu começaria a criar raízes nessa região, ao fixar residência num dos tantos subdistritos lapeanos, onde também tive a oportunidade de dar à minha filha, lapeana nata, um sólido início de vida escolar. Também jamais poderia imaginar que seria na Lapa, que eu voltaria, depois de um longo tempo dedicado a outras atividades na área de comunicação, a escrever e a editar um jornal.
A vida me reservou surpresas. Como esta de poder dividir com vocês, caros leitores, a oportunidade de saudar o bairro nesse mês de aniversário. Salve a Lapa, onde mansamente repousam nossas doces lembranças e pulsam as venturas e desventuras do presente. Um brinde a você, Lapa, bairro onde cotidianamente plantamos sementes na esperança de um amanhã bem mais humano, vivido em comum unidade.

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