JOSÉ DE OLIVEIRA JR. REPÓRTER
Literalmente, o mineiro Sebastião Ferreira do Nascimento, de 66 anos, brigou muito para chegar onde está. Nascido em São Geraldo, mas morador da Vila Hamburguesa desde 1944, o boxeador Tião Nascimento deu muitas glórias a seu País e a seu bairro de coração. Dono de dois títulos em ringues internacionais e três brasileiros em categorias diferentes, Tião Nascimento começou no boxe em 1952, quando conheceu Nelson de Andrade, iniciando sua disputa no Bela Aliança, antes de ir para o Palmeiras.
O primeiro confronto ocorreu no Campeonato da Gazeta Esportiva. “O nível técnico era tão alto, que ganhar um título de boxe da Gazeta era igual a vencer uma Corrida de São Silvestre”, relembra o boxeador, até hoje muito amigo de Eder Jofre, campeão mundial na categoria peso galo, em 1962.
Tião Nascimento começou como peso pena, chegando a conquistar o cinturão brasileiro da categoria em 1958, vencendo Claudio Tonelli, atleta do São Paulo Futebol Clube. “A parada foi dura. O primeiro confronto com Tonelli acabou empatado depois de 15 assaltos. Na segunda luta, venci por nocaute”, narra o boxeador. Como peso leve (até 61 quilos), também ganhou o torneio nacional, derrotando Pedro Galasso, também do São Paulo Futebol Clube. “Na categoria peso leve júnior (57 quilos), venci Oripes dos Santos, tornando-me campeão brasileiro em três categorias diferentes”, orgulha-se Tião Nascimento, que nesta altura, já defendia as cores do Santa Marina Atlético Clube.
Sua vida no boxe começou a mudar quando conheceu o técnico argentino Ricardo Pino na Associação Atlética Matarazzo. “Aprendi não ser necessário treinar muito para disputar as lutas. O que interessa é fazer uma preparação técnica para dar tudo de si no ringue. Treinando demais, a gente acaba cansando no momento do combate”, diz o ainda atleta, que bate saco na garagem de sua residência.
Na casa do adversário, o brasileiro venceu o equatoriano Jaime Valadares, primeiro do ranking, por nocaute no terceiro round, conquistando o Sul-Americano de Peso Leve. Em outro confronto no Continente, Tião Nascimento derrubou o argentino Jaime Gené em São Paulo, no Brasil, e em Córdoba, na Argentina. “Minha vantagem sobre os demais é que sou canhoto, um adversário mais difícil de ser batido. Talvez este também seja um dos motivos de não conseguir disputar o campeonato mundial. Ninguém queria lutar comigo”, lamenta Tião Nascimento, que tem como frustração na carreira nunca ter disputado uma Olimpíada.
O boxeador pendurou as luvas como profissional em 1968, para se dedicar aos seus dois filhos. Hoje, aposentado, tem como maior alegria brincar com seu único bisneto, Felipe Kobayashi.