Além das rotatórias

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A articulação da comunidade nos processos de formação de estâncias de participação e controle na Agenda 21, um fórum de discussão sobre meio ambiente (ver matéria nesta edição), nos leva a refletir sobre desenvolvimento sustentável numa região em acelerada verticalização, que traz consigo impactos positivos (novos negócios, mais empregos) e negativos (impermeabilização do solo, ilhas de calor, congestionamentos).
Ao assumir a prefeitura de São Paulo, em 2005, José Serra recomendou ao seu secretariado e subprefeitos a leitura do livro Morte e Vida de Grandes Cidades, de autoria da escritora norte-americana Janes Jacobs (morta em 2006). Serra, sabiamente, pedia a seus homens de confiança que lessem e refletissem sobre temas pertinentes ao desenvolvimento urbano. Entre as temáticas abordadas por Jacobs estão alguns mitos do urbanismo moderno, como “a baboseira da ficção científica de que os parques são os pulmões da cidade”. A escritora nos lembra que “são necessários cerca de doze mil metros quadrados de árvores para absorver a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que quatro pessoas geram para respirar, cozinhar etc. São as correntes de ar que circulam à nossa volta, e não os parques que evitam que as cidades sufoquem”.
Não se trata de ver em tal afirmação um manifesto contra parques, praças ou pequenas áreas verdes. Trata-se, isso sim, de dimen-sionar o problema do crescimento urbano. Se a Prefeitura admite na Operação Urbana Leo-poldina-Jaguaré um adensamento populacional de 170 mil pessoas, seriam então necessários 510 milhões de metros quadrados (ou 510 km²) de árvores plantadas para absorver as emissões dessa população. Para se ter uma idéia dessa área, basta dizer que nela cabem quase 13 vezes a região administrativa da Lapa (40,1 km²).
Sendo assim, fica claro que não é a partir da construção de micro jardins públicos que estaremos contribuindo para o desenvolvimento sustentável dos bairros da gente. Sequer a emissão de dióxido de carbono do encarregado de cuidar da jardinagem de uma rotatória verde seria absorvida pela mesma.
Em termos de desenvolvimento sustentável não basta brincar de paisagismo. Há uma lição de casa muito mais complexa a ser feita localmente. O primeiro capítulo talvez seja o envolvimento comunitário, de fato e de direito, no processo da Agenda 21 e na formação do Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável, pontos fundamentais da agenda ambiental.

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