O meu Brasil de 29-30!

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Nereu Mello

Quando eu nasci, o outono estava a pleno! Brisas amenas sopravam as verdes folhas do arvoredo das ruas e os gramados das praças reverberavam ao sol; por toda parte, as mangas amareleciam, grandes, lustrosas, suculentas. Foi pela madrugada fresca que eu cheguei ao mundo: d. Adelaidinha veio com o seu tesourão de parteira e me separou do cordão mágico que me ligava à minha mãe. Ribeirão Preto teria uns trinta mil habitantes, mais um: eu!

Naqueles dias, os bebês eram enrolados em grossas faixas e ficavam duras como um charuto. Adeus, bracinhos soltos e perninhas chutadoras! Adeus, ó aconchego do ventre de minha mãe, adorada desde sempre, até hoje. Que saudade, ó Deus! Só os meus olhos se mexiam e minha boca, insaciável dos doces seios, mexiam-se ainda mais, como um verdadeiro sugador. Isso foi em 29.

Em 30, eu fiz um ano: Getúlio veio do Sul com suas tropas e chegou a Itararé, no Estado de São Paulo, onde se travaria a celebrada batalha campal, que não houve… Os gaúchos ganharam a revolução, expulsaram Washington Luiz e amarraram seus cavalos no obelisco do Rio de Janeiro. Júlio Prestes, o Presidente eleito, ficou chuchando o dedo.

Pouquíssimos eram os automóveis; muitas eram as carroças barulhentas, cujos cavalos, sem a menor cerimônia, levantavam os rabos e enchiam o chão de bolotas, cheirando a mato fresco. Logo vinha o cata… dor… (Ha! Ha!) e o esterco ia para as hortas ao derredor. Anos depois, um amigo, sarcástico, comentou: “Já pensou se os “cavalos” desses automóveis fizessem suas bolotas nas ruas? (Ha! Ha!)… É melhor o cheiro da gasolina queimada, não? Nós já estaríamos afogados… num mar de me…leca!

Recordar é viver e se a gente puder pôr uma pitadinha de humor na imensidão do passado, não é melhor?… Ah! Meu amado Brasil! Que saudade de você! E de mim!

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