Um sonho perdido

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Sonhar faz bem. Todos sonham com uma vida melhor, um bom emprego ou com um carro novo, moto ou casa própria. Seja lá qual for, para alcançar o desejo, as mães, em geral, nos ensinam ainda crianças que é preciso comer para crescer forte e depois estudar, batalhar, ir à luta para ter o sonho realizado.

Foi assim que o assessor de eventos da CPTM, Roberval Andrade Nucci conseguiu comprar sua motocicleta para os passeios com a mulher e amigos, trabalhando muito. Aos 47 anos quis realizar um de seus sonhos de vida. No dia 1º de setembro ele postou na rede social a frase de Amyr Klink: Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir. “É o que farei no dia 7/9 com minhas companheiras Paula Guido e ‘Branca de Neve’ minha motocicleta onde percorreremos mais de 8000 quilômetros passando pelo Uruguai, Argentina e Chile”, escreveu em sua página na internet.

Foi o aviso aos amigos do Facebook da realização de um sonho, mas a planejada viagem foi interrompida pela ação de dois homens que o abordaram no cruzamento da Rua Francisco Alves com Tito, na Vila Romana, poucos quarteirões a frente de sua casa. Os bandidos acharam que ele era um policial por causa do porta documentos que tinha preso à perna (de uso comum entre motociclistas). Apesar dos apelos de sua mulher de que não se tratava de policial, um deles efetuou o disparo na cabeça de Roberval. A motocicleta de Roberval, alvo principal da ação dos ladrões foi deixada para trás junto ao seu corpo. Segundo o cunhado da vítima, a dupla levou R$ 60 e a vida do assessor de eventos da CPTM, interrompendo a tão sonhada viagem de moto até o Chile.

Quem conheceu Roberval, ou Bob como era tratado entre amigos, ficou chocado com a violência. Várias manifestações na rede social revelam a pessoa do bem que era. “Foi muito triste”, relatou o fotógrafo do Fundo Social de Solidariedade, Fernando Lambert ao falar da despedida do amigo no Cemitério do Morumbi. Sua esposa continua em estado de choque. Fatos como esse nos leva a uma reflexão sobre independência, sonho e realidade. No dia seguinte ao feriado de 7 de setembro, data do crime, aconteceu seu sepultamento no Cemitério do Morumbi. No mesmo dia 8, a Folha de S. Paulo publicou o texto “Por Cidades mais seguras” de autoria de Ilona Szabó de Carvalho, Ivan Marques e Eduardo Pazinato que fala do cenário de violência que o País vive. Não é só São Paulo ou a Lapa, mas segundo o texto, 60 mil mortes violentas ocorrem por ano no Brasil. “Não é mais possível que os candidatos às eleições municipais se isentem do debate sobre o papel do município na segurança pública”, frisa o artigo que revela mais: no país que possui 32 das 50 cidades mais violentas do mundo, é inadmissível que a segurança pública não seja pensada de maneira a engajar os diferentes entes federados e os diversos segmentos sociais na construção de uma sociedade mais segura”.

Os autores do editorial tem razão. No momento que se discute a eleição do prefeito da maior cidade do Brasil, a população precisa refletir sobre a escolha do candidato que vai se dedicar a investir mais em educação e segurança para todos. Para ter uma cidade mais segura é necessário o envolvimento de todos para que sonhos não sejam perdidos como o de Roberval.

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