Uma Rosa no jardim da Lapa

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FERNANDA DIAS

Entre os homenageados na Sessão Solene da Câmara Municipal, realizada no Salão Nobre das Faculdades Integradas Campos Salles, no último dia 14, em comemoração aos 415 anos da Lapa, uma das personalidades chamou a atenção de todos: Dona Rosa Fuzaro Ferreira. No mês de agosto, essa lapeana completou 107 anos, a maior parte deles vividos no bairro. “Fui muito homenageada pelos militares e políticos que estavam lá” comentou dona Rosa em entrevista ao Jornal da Gente sobre a Sessão Solene.
Filha de imigrantes italianos, mudou-se para o bairro ainda menina, por conta da revolução de 1924, no centro da cidade, onde morava anteriormente. Segundo ela, não havia muitas casas e nem lojas na região. Dona Rosa guarda algumas lembranças tristes daquele tempo. “Ficava assustada com o barulho de canhões e bombas daquela época”, confessou ao falar sobre aqueles tempos de guerra. Ela conta que chegaram a encontrar uma bomba na cantina de seu pai, na Rua Major Diogo, “mas a polícia conseguiu evitar o pior”. Seu filho mais velho, Décio Ferreira, acrescenta que, de acordo com as histórias da mãe, a guerra foi tão violenta no centro da cidade, deixando, inclusive, marcas de tiro na Paróquia Santa Efigênia.
Segundo dona Rosa, por volta de 1918, muitas pessoas morriam por conta da gripe espanhola, epidemia causada por um vírus de gripe das aves. Uma de suas irmãs teve uma filha com deficiência física por ter contraído a doença durante a gravidez.
Aos domingos, ela e suas primas se reuniam com amigos em casa. Justamente nessas reuniões começou a namorar firme até se casar, sem, no entanto, mudar de bairro. Seu marido costumava promover Festas Juninas e de Carnaval todos os anos.“Muitos casais, moradores da Lapa, se conheceram nessas festanças”, comentou dona Rosa.
Mas qual o segredo para viver mais de um século? “Desde menina sempre trabalhei”, comentou dona Rosa, para depois emendar uma frase com bom humor: “o vinho também me ajudou a chegar até aqui”. Hoje em dia, ela bebe um copo de vinho apenas quando a família toda se reúne. Entre outros hábitos, essa tradicional lapeana costuma orar e ler o jornal todos os dias, principalmente para saber o resultado dos jogos do Corinthians, seu time do coração “Gosto de passear, mas não posso, pois tenho dificuldades para andar. Quem cuida de mim é minha neta”, disse dona Rosa.
Quando perguntada do que mais sente saudades, a reposta não tarda a vir. “Das visitas das antigas amigas, que sempre me buscavam para ir à igreja”. Atualmente, a grande amiga é a sua cabeleireira, da qual é cliente há mais de 25 anos. Vaidosa, dona Rosa também gosta das unhas bem feitas e pintadas com um tom de esmalte quase imperceptível, de tão claro, obra também de sua neta.
Por fim, o que, aos 107 anos, uma mulher ainda pode desejar? “Que as pessoas dessa geração se respeitem mais”.

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