O recomeço

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Quem circulou pela Rua Hassib Mofarrej, na Vila Leopoldina, essa semana, se surpreendeu com uma nova paisagem depois de 14 anos: os barracos da família de dona Rosa e sua irmã Cleusa foram derrubados pela Prefeitura depois que elas deixaram o local. É que suas famílias passaram a receber o bolsa-aluguel, benefício concedido pela Secretaria Municipal de Habitação.

Às vezes pequenas transformações na paisagem provocam grande diferença na vida das pessoas. É o caso da família de Rosa e Cleusa. Rosa, mãe de Luana (hoje com 27 anos) e mais quatro filhos foram morar na calçada da Hassib Mofarrej há 14 anos. O mesmo aconteceu com sua irmã Cleusa e seus filhos.

Nem as instalações precárias, sem um banheiro ou cozinha adequada, separou a família durante o período que viveu ali. Foi em barracos improvisados na calçada que elas moraram até a semana passada. Terminaram a mudança para a nova casa (alugada com o bolsa-aluguel) no feriado de Corpus Christi, festa cristã que acontece em alusão à quinta-feira Santa – quando Jesus Cristo instituiu o sacramento da eucaristia.

Fé não faltou nessas mulheres, apesar do cansaço das promessas de políticos a cada ano eleitoral. Depois, como disse Rosa, eram esquecidas ali mesmo, na calçada. A família de Rosa e Cleusa passou por diversas administrações municipais, de subprefeitos, secretários e prefeitos de diferentes partidos políticos.

Com o tempo, se multiplicaram em quatro núcleos familiares. Pamela, irmão de Luana e filha de Rosa, tinha oito meses quando chegou à Hassib Mofarrej. Cresceu na calçada, com mesa de refeição quase no meio da rua, a menina chegou aos 15 anos. Engravidou. Seu filho será o primeiro do grupo familiar a nascer fora da calçada.
A família já tinha sido matéria do Jornal da Gente antes mesmo do Fórum Social de Vila Leopoldina se formar para discutir a inclusão de moradores de rua – principalmente depois da chegada de novos moradores dos condomínios erguidos nos últimos anos na Leopoldina. A discussão se aprofundou.

Segundo Rosa e Cleusa, elas nunca receberam qualquer benefício ou ajuda. Lutaram durante anos para educar e manter os filhos, apesar das dificuldades. No dia que foram assinar o bolsa-aluguel na sede da Supervisão de Assistência Social da Lapa, se emocionaram. Desta vez a família teve que se dividir, mas Rosa e Cleusa conseguiram alugar casa no Jaguaré e Luana ficou na Leopoldina. Foi morar em uma casa próxima ao Carrefour da Rua Manoel Bandeira. De certo ainda não é o que sonha para seus filhos, mas a mudança marca o recomeço de uma nova vida. O bolsa-aluguel será temporário (um ano e pode se estender por outro) até elas receberem a unidade do conjunto habitacional em construção na Ponte dos Remédios. A assessora de Planejamento da Secretaria da Habitação, Márcia Terlizzi, afirmou em reunião do Fórum Social (há um ano) que “a ideia é oferecer uma moradia definitiva pra elas. A entrega das primeiras unidades do conjunto está prevista para dezembro.

O Fórum Social da Vila Leopoldina comemora a saída da família da calçada (que nos últimos dois anos passou a frequentar reuniões do grupo). Não se pode negar seu mérito nessa história, nem tão pouco o de toda comunidade e até mesmo daqueles que pressionaram de alguma forma o poder público para a desocupação da calçada. Mas o que importa é que as ex-moradoras da calçada estão felizes e ponto final.

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